Camila - I

Nada tinha para dizer. Camila ficou chocada. O ar de soslaio e suspeita que possuia antes de entrar na igreja, transformou-se rapidamente em descrença e subitamente em agonia. Sentiu claramente o "Happy Meal" mastigado à pressa revolver-se no seu pequeno estômago. Quase que podíamos realmente "ver" esse pedaço de carne geneticamente alterada, movimentando-se em movimentos circulares na sua cinturinha de vespa. E que cinturinha.
camila pensava que já tinha visto de tudo neste mundo. Crianças esventradas, mulheres violadas e depois assassinadas cruelmente com o sempre popular machete, homens decapitados com uma palhinha enfiada na uretra... Mas nada se assemelhava a isto - o cenário assemelhava-se, na sua memória, a uma visão dantesca da Casa de Deus. O sangue espalhado por entre o púlpito, os pedaços de carne de um animal não especificado, mas sem dúvida, nauseabundo. Tudo parecia colocado de uma forma selvática, mas ao mesmo tempo, compenetrada, quase poética. Tinha aprendido a não se horrorizar com este tipo de comportamentos e cenários. Apreciava estes quadros reais e maquiavélicos. Não fosse ela filha de quem era. Mas ainda se interroga como veio parar ao departamento policial. Destinos irónicos.

(To be continued...)