INTELECTO DA CACA

Paulo Tavares. Desempregado. Licenciado. Frustrado com a vida. Alguém com demasiado tempo livre

segunda-feira, agosto 07, 2006

Salão de Baile

Observo a vida enquanto descanso à sombra da àrvore do enforcado. Daqui vejo-me a entregar-me a danças para as quais não tenho ritmo e danço. Neste baile ninguém tem pernas, mas os seus corpos entregam-se ao frenesim demente e decadente. Bailarinos inconscientes, rodam à volta do alçapão onde, ao caírem, encontram aquilo que sempre procuraram sem saber...
E as térmitas vão devorando o salão...

Os corpos suados roçam-se lascivamente, entregam-se a comportamentos adúlteros e indecentes enquanto flutuam em partes de ar onde outrora existiram as suas pernas. E a dança continua ao som da deliciosa música provocada pela trovoada, mesmo sem os pés tocarem no chão.
Entretanto as térmitas devoram o salão...

Um a um entregam-se à escuridão e à medida que caem no alçapão, onde incubam sonhos que nunca atingirão. Levam consigo sorrisos amarelos na cara do cadáver que tarde demais abre os olhos para a vida, fechando-os a sete chaves no caixão.
Vão sobrando as térmitas a devorar o salão...

E salta o pó no último trovão musical! Acaba-se a música, acaba-se a dança, acaba-se a vida! Desaba o salão, agora no estômago das térmitas, que lentamente é sugado para o alçapão com violência.
Agarro-me à única pessoa com pernas neste baile, que pende sobre mim com uma corda ao pescoço, e evito ser sugado.

Dás-me um pouco da tua corda?

Ficam as térmitas, ficam os enforcados, acabou-se o salão...

Acaba-se a música, acaba-se a dança, acaba-se a vida...

... Já não se houve o trovão!

BY: Ricardo "The Sarge" Mouro

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